domingo, 10 de setembro de 2017

Animais a deriva

Somos animais a deriva em uma jangada furada, devoraremos até mesmo a sombra do próximo para nos mantermos de pé, somos o ponto preto da terra, somos a mancha que cobre a terra, nossa alegria vem em doses diárias, embalsamadas sobre aquilo que nos destrói, nossas fadas são demônios, nossos deuses miseráveis, nossa fome tem sede e nossa sede não tem onde se afogar, qual é a estrada para o caminho incerto? Pois este que se diz correto só quer nos apunhalar , chove facas, venta flechas e espadas e a proteção das muralhas é uma ilusão que já não cabe em nosso olhar. Há sangue nas ruas, uma areia movediça de sentimentos impróprios, logo o sol esfria e a noite esquenta, logo a garrafa se cansa e arrebenta, no labirinto de nossas cabeças a salvação é não acordar.

Real amor

Recolherei as pedras das praias desertas
Contarei os grãos de areia das ilhas mais belas
Criarei asas e esferas
Para sorrindo realizar teus desejos,
Pois estas feras que nos cercam
São os degraus que nos levam
Para o sonho do real amor

Não importa

E agora não importa se a noite cai ou amanhece
Se a lua se encheu e o sol não mais me aquece
O vazio é um calendário de dias sem datas
É um amontoado de latas de sobriedade

O meu leito grita
Onde estas?
E o eco responde
Ficou para trás

Os pés sangram e recuam
Os olhos se dobram e simulam
Os braços flutuam
Pois o real é uma tristeza gratuita e gorfada

O meu leito grita
Onde estas?
E o eco responde
Não dormiras

Ascendo minha face com a brasa de meu cigarro
Deformo-me enquanto me alimento de escárnio
Pois não desperto deste sonho macabro,
Devo estar acordado

O meu leito grita
Onde estas?
E o eco responde
Morrerás

Todas as manhãs

Todas as manhãs sonho que já é tarde
São teus olhos meu desejo de luar
Que cada minuto se torne mais um dia
E a cada dia eu viva a lhe amar