segunda-feira, 24 de março de 2014

Lince negro

Certa vez vi
  Pelos olhos do lince
Minha sombra deixando-me de lado
  Vi nas noites
De cada dia
  Meus dentes serem arrancados
Queria eu sonhar não estar acordado
 Ah como me dói

Vi a sede faminta
  Devorando-me por dentro
Fui escravo de o meu próprio ser
  Queria eu apenas morrer
Mas o golpe me era negado
  Peregrinava vazio e calado
Queria eu sonhar não estar acordado
 Ilusão que me destrói

E do “vazio” o lince me trás
  Suas luas flamejantes me fitam
Agora parte ronronando
  Segue procurando
O próximo moribundo
  Que queira enxergar

E eu a cá fico
  Ao álcool ou ao grito
De fronte com o meu terror
Glória ao lince negro
 Que me revelou o segredo
Glória ao lince
 Glória ao lince que me trouxe
Toda a dor!

quinta-feira, 20 de março de 2014

Jaz em mim?

Fiz das areias frias meu sepulcro
Ó divino sol por que me fita?
Minha carne fervendo grita:
“está vida não precisa mais do teu calor”

As ondas vão levando migalhas de mim
Lançando-me contra as rochas
Neste frio quero a alma de tuas tochas
Para as estrelas ainda evapora meu amor

domingo, 2 de março de 2014

O circulo

O circulo negro que reside em teu seio
É o autor da minha febre,
De meus pecados,
Liberdade aos meus embalsamados
Sonhos ébrios de flor

Ó girassol quero lhe ter em meus braços
Quando surgir a alvorada
Quero lhe ver desabrochando ó minha amada
Sobre o leito da inocência e do calor

A uma torrente de volúpia
Em cada gota de teu suor

Escalar-te-ei pela neve de tuas pernas
Navegar-me-ei pelo mar das vontades eternas
Seguirei teu canto mudo ó minha sereia
Pois ele é o sangue fervendo em minhas veias

Teu ventre és o éden real,
Divino portal,
Quero banhar-me
Do teu infindo deleite
Nele afogar-me
Enquanto fito teus enfeites.
Glória

Sol é noturno

O sol é noturno
Na realidade ébria,
É taciturno
Errante na trilha das lacunas
Quero lembrar-me de esquecer
Que o desprezo é meu amante,
Que a cinza agora é negro
No desejo torpe constante

Ó se eu me lembrar:
Traduzirei o canto oculto do ar,
Dançarei onde o tempo não pode passar,
Deitarei ao lado das bruxas
No véu dos meus sonhos,
Pois é lá onde elas não me queimam

Mas se o acaso cair sobre meu leito
Antes que Apolo possa me tocar
Mostre-me o caminho para o tártaro
Pois se nada existe
é lá o meu lugar