segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A máscara do espaço


Vejo seres de sangue ralo
Lambendo a ponta dos dedos,
Procurando o gosto da vida
Já não se diferencia a sombra do reflexo
Será que também sou assim?
A eloqüência se tornou loucura
E acabo de devorar meu próprio cão
Mas uma vez este baile de máscaras
Para comemorar nossa falta de personalidade
Um cavalo, por favor; devo viajar por entre a máscara do espaço
Para tornar-me consciente outro vez
(isso se alguma vez já fui)

O Gatilho


Não importa quantas vezes eu puxe o gatilho
A arma não dispara, despertei de toda ilusão
Fogem-me agora os espíritos
Fogem os demônios e todos os amigos
Da sagacidade a raposa conquista tua coroa


Minha sombra me trás de volta a cada devaneio
Trago nas mãos o perfume de cada dia
Meu ópio é a terra contorna meus pés
Meu prazer é o ócio
Por hora inexistente


O verão aquece, mas não seca minh’alma
A febre ainda me fere ao passar de uma neblina
Faltam-me nuvens para desenhar
Faltam-me nuvens... Falta-me a chuva
Já não me falta nada, pois agora me basto

 

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Sucumbe o albatroz

Sucumbe o albatroz
E desperta a tormenta

Como a lasca de uma chama se gás

Nem mesmo a sombra ousa olhar para trás
 
De sangue ralo
O asno amontoa-se como sarna
O medo reside no sol
Com o sangue aos pés preferem à vela ao farol
 
Caem dados
E joelhos sobre o chão
Há quem chora implorando a febre
Há quem viva pelo ilusório perdão

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Com o tempo

Envio-lhe abraços
De minha saudade ébria
Antes que minha vida
Também se vá
 
Envio-lhe devaneios
De uma alma que se esgota
De uma rosa quase morta
Que não quer despertar

O Sátiro e a cobra

Enquanto o Sátiro guia a carruagem do bardo
O coro festeja sobre o fogo
E os asnos aguardam
Histéricos e nus
O dia em que voaram com a loucura
Para o cerne de tua própria chama
 
A serpente nebulosa agora procura a própria calda,
Pois outrora se perdeu sobre o próprio reflexo
Faz do medo tua bengala
E ao contrário dos cavalos
Ela agora só olha para os lados
A procura do que ainda não perdeu